Desafios de um arquiteto ao abrir seu escritório

Responsabilidades, perfil multidisciplinar, visão humana, planejamento e gestão: conheça os desafios de um arquiteto ao abrir seu escritório
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Desafios de um arquiteto ao abrir seu escritório

(Mona Singal, Juliana Junqueira, Daniel Corsi e Luciana Mallet)

Texto: Giullia Souza

Quando o assunto é carreira, abre-se um “mar” de possibilidades – e outro de dúvidas. Na arquitetura, não é diferente. Muitos estudantes e recém-formados optam por criar seus próprios escritórios. De acordo com o Censo do CAU/BR, a maior parte dos profissionais de renda mais alta é a que possui pessoa jurídica própria (55%), ou seja, que atua como proprietário ou sócio de uma empresa. A ideia pode “brilhar” os olhos, mas não é simples.

Para debater sobre os desafios de um arquiteto ao abrir seu escritório, conversamos com:

       ·         Daniel Corsi (Atelier Daniel Corsi);

       ·         Juliana Junqueira (MORA estúdio);

       ·         Mona Singal (Rua 141);

       ·         Luciana Mallet (atua com desenvolvimento profissional, posicionamento e estratégia para arquitetos).

Além de apresentarem suas visões a respeito do mercado, os profissionais transmitiram conselhos que listamos a seguir.

DANIEL CORSI: O INÍCIO REPENTINO E AS RESPONSABILIDADES DE UM ARQUITETO

O início da vida empreendedora de Daniel Corsi aconteceu de forma atípica e repentina. Ao lado de Dani Hirano e Reinaldo Nishimura, venceu um concurso público nacional de arquitetura com o projeto do “Fórum do Complexo Trabalhista do TRT – 18ª Região”. A contratação imediata exigiu que o escritório nascesse da noite para o dia, em meio a formalizações, constituição de equipe, definição da sede etc.

Muitas experiências foram vivenciadas. Hoje, Daniel transmite seus aprendizados como docente. “É importante saber das responsabilidades e implicações – tanto da profissão, quanto do trabalho que está sendo feito. Além disso, o estudo contínuo, a ética e a integridade são vitais”, afirma.

Ele ainda ressalta a importância de estabelecer uma sinergia com as pessoas que trabalham no projeto. Afinal, o arquiteto titular exerce papel importante para a manutenção da equipe em todos os aspectos.

Depois de mais de 10 anos trabalhando em sociedade, o profissional segue carreira solo. Assim, experimentou prós e contras de dois modelos de trabalho. “Por um lado, você tem autonomia…é o responsável por fazer a ‘coisa acontecer’. Ao mesmo tempo, não está empregado ou amparado por ninguém. Outra questão é que a sociedade dilui responsabilidades, coloca mais diversidade nas ‘cabeças’ que conduzem o negócio, mas não garante liberdade no âmbito ideológico”.

JULIANA JUNQUEIRA: SOBRE PERFIL MULTIDISCIPLINAR E ESPÍRITO EMPREENDEDOR

No comando do MORA estúdio, em parceria com Ana Beatriz Franceschi, Juliana Junqueira é uma jovem arquiteta que tem memória recente dos desafios de estar à frente de um escritório – que também é novo.

O empreendimento, que já colhe bons frutos, deixou claro para ela que esse tipo de negócio exige muito mais do que ser arquiteto. “Gerir uma empresa nem sempre é algo que aprendemos na graduação. É fundamental estar disposto a aprender, a ser um profissional multidisciplinar, que saiba um pouco de tudo. Quando começamos ‘sozinhos’, acabamos sendo o financeiro, o RH, o psicólogo…”, conta.

Juliana pontua que é necessário entender se realmente existe o espírito empreendedor, o traço de liderança na personalidade e a vontade genuína de apostar em um escritório próprio “Isso está relacionado à essência de cada um. Se tem a ver com você, vai fundo; se está fazendo apenas por dinheiro, não vale a pena”, afirma.

Ela lembra que na arquitetura existem muitos nichos de trabalho. Portanto, o importante é pensar sobre onde quer estar e o que, de fato, dá mais prazer. “Sempre há público e espaço para profissionais que são apaixonados pelo que fazem”, ressalta.

MONA SINGAL: A VISÃO HUMANA E A VALORIZAÇÃO DA CULTURA BRASILEIRA

A frente do Rua 141, escritório que soma quase 25 mil seguidores no Instagram e uma sequência de projetos sociais realizados, Mona Singal encontrou seu propósito na união da arquitetura e do empreendedorismo.

Para a arquiteta, a profissão é, entre outros aspectos, muito humana. “Tenham um olhar generoso para o outro. Isso irá refletir sobre a forma de projetar. Observem a cidade, vejam as relações estabelecidas sobre o território, estudem as pré-existências e criem sobre elas outras conexões, mas sempre com muito respeito”, aconselha.

Outro traço visível e admirável em suas criações é a valorização da cultura brasileira, que ela fez questão de mencionar quando perguntamos sobre o que é preciso para se destacar na área. Sua sugestão é que estudantes e recém-formados analisem a cultura brasileira, estudem o que é produzido aqui e valorizem o mercado nacional.

Mona conclui: “É sobre ser atemporal, mergulhar no design brasileiro e explorar – e saber – ressignificar os materiais, entendendo o ciclo de cada um. É observar as dinâmicas das metrópoles, os novos hábitos, as relações entre as pessoas. A boa arquitetura é o reflexo dessas conexões”.

LUCIANA MALLET: A NECESSIDADE DE AUTOCONHECIMENTO, PLANEJAMENTO E GESTÃO

Na contramão das histórias anteriores, Luciana Mallet descobriu seu ramo de atuação após estruturar uma empresa em sociedade e descobrir muitas situações que não queria para sua vida profissional.

Hoje, trabalhando com desenvolvimento profissional, posicionamento e estratégia para arquitetos, ela assegura que autoconhecimento é chave para identificar pontos fortes e usá-los com sabedoria. Isso também serve para identificar potenciais problemas e trabalhar para que eles não aconteçam.

Além de alertar sobre a importância de planejamento e capacidade de gestão, Luciana destaca que, atualmente, há muitos arquitetos, mas poucas empresas bem estruturadas, com equipe multidisciplinar, boa remuneração, tecnologia e preço de projeto compatível.

Para quem deseja mergulhar no empreendedorismo, ela orienta: “É indispensável que a pessoa saiba no que é boa e como mostrar isso ao mundo – não adianta ter as melhores formações e ideias se ninguém tem acesso a elas. Também é importante entender o mercado de arquitetura e construção civil (desde loteamento até decorados), identificar demandas, permanecer em constante atualização e estar atento ao que ainda não surgiu”.

Pesquisa: Censo dos Arquitetos e Urbanistas do Brasil (2012) – CAU/BR

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