Reforma do Pacaembu reestrutura arquibancadas e inclui novas áreas no estádio

O orçamento da concessionária Allegra Pacaembu, que ficará responsável pelo espaço até 2054, ultrapassa os R$ 400 milhões
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A inauguração está prevista para 25 de janeiro de 2024, aniversário da cidade (Foto: Folha de São Paulo/Reprodução)

Texto: Naíza Ximenes

04/07/2022 | 17:01 — O estádio do Pacaembu acaba de passar por mais uma etapa de sua reforma: a demolição das arquibancadas nas alas leste e oeste. Inaugurado em 1940, o Pacaembu se tornou um marco arquitetônico, histórico, cultural e esportivo da cidade de São Paulo. Hoje, o estádio abandona o estilo art déco, inspirado no Estádio de Berlim, para tornar-se um novo empreendimento.

Apesar de ter sido tombado por órgãos de preservação, o edifício foi concedido à iniciativa privada há três anos. Na época, a concessionária foi escolhida para firmar contrato com a Prefeitura de São Paulo sob a proposta de “investir R$ 400 milhões no Complexo Esportivo do Pacaembu e reinaugurar o espaço em 24 de janeiro de 2024 (a tempo de sediar, no dia 25, aniversário da capital paulista, a final da Copa São Paulo de Futebol Júnior)”. Também está inclusa, na proposta, a “ampliação do local, atraindo mais pessoas para acessar o Complexo”.

A Allegra Pacaembu também se comprometeu com a “ideia de potencializar os usos que já ocorrem para eventos e feiras, e incorporá-los no programa da praça Charles Miller, dado que a proposta inicial da concessionária era fazer R$ 37 milhões de investimentos na praça. Esses aportes seriam concomitantes aos investimentos realizados dentro do Pacaembu, para que a oferta esportiva no Complexo seja ampliada ao local”.

Firmado o contrato — que prevê coordenação do local até 2054 pela concessionária —, a Allegra deu início ao projeto. Cerca de 200 operários trabalham no espaço diariamente e, até o momento, já demoliram várias instalações. A última demolição foi a das arquibancadas nas alas leste e oeste, que darão espaço a ambientes de convivência e adaptações de acessibilidade.

O projeto desenvolvido pela construtora e aprovado pela prefeitura paulista inclui:

1. A criação de um novo centro de reabilitação e medicina esportiva;

2. A construção de uma arena para e-sports;

3. A construção de novos espaços de convivência na ala de acesso que desemboca na Rua Capivari, com espaço para socialização, alimentação e diversão;

4. A revitalização do centro esportivo, com piscina, quadras de tênis e quadras poliesportivas, que devem permanecer no formato original e com acesso aberto à população;

5. A edificação de um hotel com 50 quartos, a partir do segundo semestre de 2024, integrado ao novo prédio que será erguido no local onde estava o antigo tobogã, demolido no ano passado; e

6. A instalação de uma área para shows e uma seleção de restaurantes no terraço do novo edifício.

Há, ainda, uma negociação em andamento, que considera a instalação de operações de uma renomada empresa educacional. A Allegra, entretanto, não deu detalhes sobre esses planos — apenas contou que os serviços estão previstos para funcionar na parte interna das arquibancadas.

Essas arquibancadas, inclusive, foram realocadas. Elas terão assentos em formato similar aos anteriores e serão recolocadas sobre as novas estruturas. O Museu do Futebol é outro que não sofrerá alterações, já que permanece em funcionamento mesmo com as obras, e não foi incluso na concessão.

O arquiteto Rafael de Carvalho, diretor da concessionária, contou que o intuito era seguir a inspiração estadunidense de estádios. “Haverá multiarenas e atividades cotidianas. É um modelo próximo do L.A. Live, em Los Angeles. Lá há arena, espaço de eventos, teatro da Broadway e escritórios, conectados por uma praça”, ele explica.

Polêmicas

Apesar de consistir em uma mega reforma, a iniciativa gerou polêmicas entre os especialistas em arquitetura e urbanismo. Há profissionais que recriminam as mudanças, alegando descaracterização do patrimônio histórico e, consequentemente, desvio da finalidade da concessão — acreditando que o Pacaembu deixará de ter o futebol, um ponto fundamental da cultura brasileira, como foco principal do ambiente.

Há quem comemore as revitalizações, defendendo uma dinamização e potencialização do espaço, desde que aconteça sem descaracterizá-lo. E há, também, quem critique a concessão como um todo, alegando que as arquibancadas foram idealizadas segundo a topografia do terreno, e que a sua demolição veio acompanhada da destruição da relevância do estádio.

Em resposta, a Prefeitura de São Paulo argumenta que tem analisado e aprovado (ou reprovado) todo o corpo técnico das reformas no Pacaembu, visando proteger a identidade da construção.

Em paralelo às críticas, a concessionária construiu o “Pavilhão Pacaembu”: uma tenda de eventos com o intuito exclusivo de movimentar o local e torná-lo mais convidativo, sem considerar lucros, apenas do custo operacional cotado em R$ 20 milhões para 18 meses de atividade. O espaço provisório já conta com shows de artistas nacionais e internacionais, que chegou a ter ingressos esgotados.

“O conceito do Pavilhão é ter uma conexão com a cidade. A nossa ideia é manter os portões em frente à Charles Miller abertos. Tem que deixar o público ver o desmonte das arquibancadas laterais, por exemplo. É uma intervenção necessária, não era admissível o Pacaembu seguir com banheiro químico”, explica Rafael de Carvalho.

A empresa quer estender sua concessão por mais 10 anos, mas a prefeitura ainda não decidiu a questão. A gestão municipal diz que recebeu um parecer inicial do Tribunal de Contas do Município sobre o pedido, mas que não comentará os ajustes no contrato propostos pela Allegra.

A concessionária alega atrasos causados pela pandemia, uma medição equivocada na área de uso do estádio, registrado no documento de licitação, e demora na aprovação do projeto inicial. Dentro do mesmo pedido, há a proposta de inclusão da Praça Charles Miller no processo de concessão e a redução de pagamento da outorga à prefeitura pela metade.

A inauguração está prevista para 25 de janeiro de 2024, aniversário da cidade, quando o local tradicionalmente recebe a final da Copa São Paulo de Futebol Júnior.

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